domingo, 5 de dezembro de 2010

O que te incomoda?


Dias atrás li um texto super interessante no blog Menina de Cachos (o qual eu sigo e tem um propósito muito parecido com o do meu): “De Eva a Geyse”. Se não me engano, li-o na mesma semana em que foi exibido o sexto episódio da segunda temporada de Glee, com certeza um dos episódios mais bem feitos de toda a série, e o mais chocante também.

Quem assistiu sabe por quê: o jogador de futebol Dave Karofsky, típico brutamontes que gosta de dar mostras de sua masculinidade por meio de atitudes estúpidas e violentas, neste episódio toma uma atitude que pode ser a chave para descobrir a verdadeira razão de ele implicar e aterrorizar tanto o personagem Kurt Hummel, jovem assumidamente homossexual.

Paralelamente a esta grande revelação (apesar de que até hoje nada tenha ficado muito bem explicado; creio que os roteiristas de Glee ainda têm muito mistério guardado para ser revelado nos próximos episódios), impressionou-me o posicionamento da autora do texto “De Eva a Geyse”. Embora não concorde com todos os seus argumentos, gostei da maneira como ela abordou a questão, olhando-a por um ângulo em que eu ainda não tinha olhado: a reação da sociedade frente às pessoas que não reprimem sua sexualidade ou qualquer outra coisa que a moral/costumes/lei imponha que sejam reprimidos.

Para falar sobre este assunto precisarei deixar de lado (não esquecer, apenas deixar de lado para esta ocasião) algumas concepções minhas, pois só assim compreenderei melhor certas coisas. Não sou 100% entusiasta do lema “Seja você mesmo”, conforme já expus aqui, mas independente disto, dedico este texto à análise do outro lado da história: o espectador do indivíduo que decide agir conforme suas próprias vontades e pensamentos.

Como é de praxe aqui no blog, para aprofundar-se no entendimento de alguma coisa preciso fazer perguntas, então here we go: por que algumas atitudes alheias nos incomodam tanto, mesmo quando não afetam diretamente as nossas vidas? Por que sentimos que estamos sendo afrontados quando alguém resolve tratar abertamente de sua própria maneira de ser, ainda que isso não nos diga respeito?

No Direito, fala-se muito em “moral e bons costumes”, que dizem respeito a todos os pudores que a sociedade possui e que devem ser respeitados, a fim de que os sentimentos dos indivíduos não sejam feridos. Pois bem, como surgem esses pudores? De onde eles vêm?

A filósofa Marilena Chauí, em seu livro “Repressão sexual”, ajuda a entender a questão quando diz que “a repressão sexual será tanto mais eficaz quanto mais conseguir ocultar, dissimular e disfarçar o caráter sexual daquilo que está sendo reprimido” (1991: p. 10).

Pois bem, muito embora a frase e a própria obra de Marilena tratem da repressão sob o prisma da sexualidade, podemos muito bem fazer uso dessas palavras para falar de outros tipos de repressão também.

Tendemos a condenar as coisas que julgamos como erradas, e quando enxergamos estas coisas dentro de nós mesmos, procuramos escondê-las. Não satisfeitos em reprimir a nós mesmos, queremos também reprimir os outros. Incomoda-nos ver alguém tratar com tanta naturalidade aquilo que temos lutado tanto para ocultar.

É correto, assim penso eu, que o código moral da sociedade condene alguns tipos de comportamentos e a lei venha a positivar isto, caso contrário o mundo seria um caos onde todos fazem o que bem quiserem e jamais teríamos controle sob a formação da personalidade de nossos filhos e até mesmo da nossa própria, se estivermos em condição de fragilidade e influenciabilidade.

Contudo, não podemos chegar ao extremo de apedrejar alguém em razão das escolhas que fez se este alguém não estiver importunando ninguém com seu jeito de ser, ou esteja somente exercendo um direito seu.

Não sou a favor do escancaramento e da falta de respeito e discrição. Somos livres para fazermos o que achamos melhor, mas nossa liberdade não pode constituir uma afronta aos sentimentos das pessoas. Da mesma forma, também somos livres para pensarmos qualquer coisa de qualquer pessoa, mas não temos o direito de agredi-la ou desrespeitá-la em virtude destas opiniões que formamos.

A questão é complicada dos dois lados, mas tudo poderia ser bem mais pacífico se todos fizéssemos uso de uma coisa muito simples chamada bom senso

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