sábado, 23 de abril de 2011

Novela “Amor e revolução”


Meu mais novo entretenimento é a nova novela do SBT, “Amor e revolução”. Trata-se de uma empreitada ambiciosa e ousada do SBT, que sempre foi um dos meus canais prediletos.

A novela é ambientada no Brasil da década de 60, em plena iminência de golpe militar. O romance principal envolve uma líder revolucionária estudantil e um filho de militar, e todas as tramas paralelas giram em torno desta questão também. A novela é puramente histórica, quase não sobra espaço para quaisquer outros dramas e romances particulares dos personagens. A política domina as conversas. As cenas de tortura e perseguição a comunistas são frequentes.

Entre os pontos positivos da novela, eu destacaria:

  • A imagem. Há algo na iluminação ou na fotografia que faz com que a novela pareça antiga, filmada nos anos 80 ou 90, mal se acredita que está sendo filmada em 2011! Creio que este é um grande acerto, tendo em vista que ultimamente a reapresentação de novelas épicas produzidas na década de 80, tais quais “Dona Beija” e “Ana Raio e Zé Trovão”, têm alavancado a audiência do SBT;

  • A própria temática. Muita gente tem se sentido incomodada em ter que rever os velhos fantasmas da ditadura, e há também quem não goste da abordagem, quem creia que os militares estão sendo muito demonizados enquanto os comunistas posam de mocinhos. De qualquer forma, admiro a ousadia de querer contar (e mostrar!) pormenores deste período da nossa história, de uma forma em que até hoje nenhuma outra produção de massa no Brasil havia feito;

  • A trilha sonora. Ela é óbvia, pouco surpreendente, mas por isso mesmo é maravilhosa. O repertório do contexto ditatorial brasileiro é repisado, mas nem isso tira o brilho, a genialidade e a emoção de canções como “Roda viva” (que toca durante a abertura da novela, sobre a qual falarei abaixo), “Cálice”, “Alegria, alegria” e “Pra não dizer que não falei das flores”;

  • O roteiro, apesar de ele não me parecer muito homogêneo, a impressão que dá é que alguns personagens e núcleos têm diálogos mais interessantes que outros. Gosto, por exemplo, das linhas proferidas pelo delegado Aranha, personagem de Jayme Periard: ele tem tiradas boas e dotadas de um despudor raramente visto em novelas do SBT. Outros personagens, entretanto, ainda mantêm aquela fala seca e maquinal das antigas novelas da emissora;

  • Os depoimentos exibidos ao final de cada capítulo. São depoimentos reais de pessoas, geralmente de pessoas que participaram de movimentos comunistas nas décadas de 60 e 70. É a oportunidade do telespectador conhecer algumas realidades, além de saber de histórias nunca reveladas e outros episódios pouco falados nos livros de história;

  • A abertura. É bem feita e tocante, ilustrada com cenas que transmitem uma noção das tramas contadas na novela, em um tom assepiado e nostálgico. A única ironia é que a abertura seja transmitida apenas no final de cada capítulo!;


  • Por fim, algo que já até mesmo frisei anteriormente: o fato de a novela ter um foco essencialmente histórico. Para quem não se interesse por história, provavelmente a novela parecerá maçante, tediosa, antiga e muito preocupada em politizar o telespectador. Porém, aos que se interessam, trata-se de ótima diversão, com grandes doses de cultura.

Assistir a “Amor e Revolução” me faz pensar nos dois lados da história. Comunistas ou militares: quem são os mocinhos e quem são os bandidos? Alguns segmentos da sociedade, bem como boa parte dos livros de história, tentam massificar a ideia de que o regime militar foi altamente maléfico, pintando os comunistas de santinhos. Não sou suficientemente politizada e entendida em história para poder emitir opinião certeira sobre o assunto, contudo, quanto mais amadureço e busco entender como as coisas funcionam neste mundo, mais me convenço de que não há anjos ou demônios nesta história, ou ao menos não totalmente.


É complicado buscar informações sobre algo que ainda assola as pessoas de nosso país. As cicatrizes ainda estão expostas, os traumas são muito recentes, ainda há quem não tenha superado tudo que vivenciou. Onde encontrar conhecimento imparcialmente produzido? Naquela época, é certo que não havia como permanecer “em cima do muro”; era preciso tomar um partido. E só quem pode nos contar com tudo aconteceu, são estas mesmas pessoas que assumiram uma posição. Como saber em quem acreditar? Como saber qual versão é mais confiável?  

Realmente não sei de qual lado está o escritor de “Amor e revolução”, tampouco qual a sua intenção ao contar as coisas do modo como está fazendo. De qualquer forma, não se pode olvidar que a novela, ademais de uma aula de história, não deixa de ser um meio de entretenimento, e como tal, as verdades nela propagadas não devem ser tomadas como absolutas.

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