terça-feira, 12 de abril de 2011

Saudades de uma infância que não se foi

Quanta saudade sinto da época em que eu não precisava ser quem sempre sonhei ser, ou ao menos não sabia ainda quem queria ser... Sinto saudades da época em que minha liberdade era pequena e minha imaginação era grande, mas o suficiente para que uma coubesse dentro da outra... Sinto saudades da época em que ainda planejava como seria a minha vida quando eu já pudesse fazer planos para ela. 

E eu, que já me acho tão velha para gostar de certas coisas, permito que um sonho traga de volta aquelas antigas sensações, a ponto de quase desejar que o tempo pudesse voltar, a ponto de quase invejar a antiga eu, a ponto de quase tachar de desinteressante a vida que eu levo hoje. 

Mal consigo entender como, em meio a tanta correria do dia a dia, encontro tempo para relembrar os velhos tempos. Mal compreendo como este tipo de recordação arranja espaço no meu amontoado de pensamentos, de anotações mentais sobre milhões de coisas que ainda preciso fazer. 

Será que algum dia, em um futuro distante ou nem tanto, terei condições de encaixar um pedacinho da minha antiga vida na minha futura vida? Ou será que este é o tipo de regalia que ficou para trás e à qual nunca mais terei direito? Será que posso afirmar que só depende de mim? 

Confesso: tudo aquilo ainda me agrada. E eu, que cresci tanto, amadureci tanto, aprendi tanto, ainda não sou adulta o suficiente para deixar de ver graça em tudo que um dia me fez rir. É possível que menina e mulher dominem o mesmo cérebro, o mesmo espírito? Porque a verdade é que ainda sou capaz de raciocinar exatamente como fazia quando era mais nova, enxergar determinadas situações sob a mesma ótica, adorar e me emocionar com as mesmas coisas... Não é que este comportamento prevaleça; tenho noção da minha idade e carrego comigo tudo que isso acarreta e me trouxe ao longo dos anos, mas o fato é que não perdi a sensibilidade de criança... Seria possível que estas duas capacidades convivessem harmonicamente? 

O lado bom é que sei perfeitamente qual dos lados deve prevalecer. Todavia, ainda deixo um espaço guardado, em mente, alma e coração, para a criança que fui e provavelmente nunca deixarei de ser.

Sei que a vida é composta de fases, mas há uma outra maneira de interpretar esta realidade: as fases não são isoladas, elas se interligam por meio de elementos de nossa personalidade que muitas vezes nem conhecemos, ou não entendemos. Enxergo na mulher de hoje a criança que outrora fui, e curiosamente, consigo enxergar na antiga menina os traços de mulher que hoje possuo. Afinal, somos a mesma pessoa, não?

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