sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sobra coragem e sabedoria onde falta orgulho

O orgulho é visto como sinônimo de dignidade e amor próprio... Todavia, a cada dia que passa, convenço-me mais que aqueles que não se deixam bloquear pelas travas do orgulho são muito mais sábios.

O que é o orgulho senão o medo de dar a cara a tapa? O que é o orgulho senão a falta de coragem? O que é o orgulho senão o medo do julgamento público? O orgulho é esta bandeira que criamos para justificar nossa incapacidade de nos expor, nossa fraqueza, nossa falta de coragem de encararmos diretamente as coisas, nossa falta de jeito frente aos nossos próprios sentimentos. Some-se a tudo isso o fato de vivermos em uma sociedade em que o poder é tão valorizado, a ponto de se acreditar que pessoas que não se impõem são vistas como fracas. Pessoas altruístas, pessoas que amam, que perdoam, que cedem, que aceitam se diminuir em algumas situações, que sabem reconhecer quando estão erradas, pessoas que oferecem a face esquerda quando lhe batem na direita, pessoas que escutam desaforos caladas em vez de retrucarem... Todas elas são vistas como fracas, simplesmente por não colocarem a si mesmas à frente de tudo, por preferirem ser amorosas a serem vistas como incríveis, como “fodonas”. Orgulho, hoje, é sinônimo de poder.   

Lembrei-me de Maria, a vencedora do Big Brother Brasil 2011. Maria não teve vergonha de assumir seus sentimentos, quando foi rejeitada por Mau Mau. Não teve medo de ser vista como fraca e desprovida de amor próprio quando rastejou por ele. Não foi orgulhosa. Só posso crer que Maria é muito bem resolvida em relação a seus sentimentos, e tem coragem de assumi-los, independente de como seria julgada por isso. Só posso admirá-la por correr atrás de algo que quer, deixando de lado todos as regras que a sociedade nos impõe.

É claro que, no fim da história, Maria não ficou com Mau Mau, e acabou conseguindo algo muito melhor. Houve um momento em que ela desistiu de humilhar-se para ele – mas fez isto porque sentiu que era o melhor a fazer, e não porque não queria mais ser vista como fraca.

O bom senso nos diz que humilhar-se para o ser amado é burrice, pois só o faria explorar-nos mais. A sociedade sabe que dar a outra pessoa total poder sobre sua vida é uma maneira de tornar-se escrava da pessoa, uma vez que sua felicidade dependerá dela. O orgulho transformou-se, portanto, em meio de defesa. Mas só quem se sente ameaçado é que precisa se defender. E qual a razão de existir tamanha ameaça? Precisaríamos ser tão orgulhosos se as pessoas não fossem tão cruéis ao julgar os sentimentos alheios?

Lembrei-me também de uma velha e bela canção dos Isley Brothers...


“If you leave me a hundred times, a hundred times I’ll take you back… I’m yours whenever you want me, Im not too proud to shout it”

“Se você me deixar cem vezes, cem vezes eu te aceitarei de volta... Eu sou seu a qualquer hora que você me quiser, não sou orgulhoso demais para gritar isso”



É preciso ser muito homem para dizer isso a uma mulher! É preciso ter muita autoconfiança para aceitar de volta, mil vezes se for preciso, a mesma mulher que te rejeitou tantas vezes, sem medo de ser ferido novamente. É preciso ser muito seguro de si para assumir que se aceitá-la vai fazê-los felizes, então é isso que se deve fazer, sem se importar em ser tachado de “corno” ou “capacho” pela sociedade. Enfim, é preciso ser muito homem para não precisar provar para ninguém que se é homem. Idem para as mulheres. Não, não vejo isso como fraqueza. Quem perdoa, com o coração nunca é fraco; muito pelo contrário. Fraqueza é sucumbir aos anseios da sociedade, isso sim.

A chave para entender o problema está na sociedade, claro. A sociedade cria seus preceitos, seus modelos, e quem foge disto é excluído, é rechaçado, é visto como anormal. O homem que perdoa a mulher falha é visto como um banana que não sabe se impor. A mulher que perdoa o homem falho é vista como submissa, como uma mulher que não valoriza a si mesma. Certamente, a mesma sociedade que criou este padrões não contava com a possibilidade de existirem pessoas que perdoam com pureza, com verdade, que perdoam porque realmente sentem esse desejo – e não porque estão sendo submissos!

Não ser orgulhoso não é a mesma coisa que não ter amor próprio. Perdoar é ser sábio, é entender que todos erram e que ninguém é tão superior a ponto de não poder aceitar um erro alheio – até porque, mais cedo ou mais tarde, somos nós quem erramos e acabamos precisando ser perdoados!

Em um mundo como o nosso, cada vez mais me convenço que as pessoas menos orgulhosas são as mais corajosas e sábias. Orgulho é para fracos. Pessoas bem resolvidas consigo mesmas, pessoas que não têm medo de serem julgadas pelas outras, estas sim têm coragem. 

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