Hoje pela manhã, um ex-aluno da Escola municipal Tasso da Silveira, Wellington Menezes de Oliveira, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, invadiu uma sala de aula, anunciou que faria uma palestra, e então passou a atirar contra os alunos, dos 11 morreram, e mais 18 pessoas ficaram feridas. Após a chegada da Polícia Militar, Wellington trocou tiros com os agentes e depois suicidou-se.
Primeira parte da carta que o atirador trazia. Fonte da imagem: O Dia Online |
O atirador portava duas armas, muitas munições e uma estranha carta na qual dizia que não gostaria que seu cadáver fosse tocado por "pessoas impuras", dando a entender que já havia planejado o suicídio.
No momento, os policiais que investigam o crime estão considerando a hipótese de que os "impuros" mencionados na carta sejam mulheres. Curiosamente, 10 das 11 vítimas fatais eram do sexo feminino. Todavia, é cedo para afirmar se este foi o real motivo que levou Wellington a cometer os homicídios.
Cogita-se ainda a possibilidade de o rapaz ter sido impulsionado por sentimento de vingança, por ter sofrido bullying durante a adolescência, quando estudou no colégio que serviu de cenário para o massacre. O autor do crime foi descrito como quieto, tímido e recalcado por um colega de trabalho; já um colega de tempos de escola assevera que Wellington nunca sofreu bullying, e que era introvertido por opção, nunca fez questão de entrosar-se e fazer amizades. Há ainda quem diga que Wellington fosse esquizofrênico ou estivesse sofrendo um surto psicótico, e evidências de que era portador do vírus da AIDS.
(Fontes:
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5052848-EI5030,00-Colega+de+atirador+nega+que+ele+tenha+sofrido+bullying+na+escola.html
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/899549-atirador-no-rio-era-introvertido-diz-ex-colega-de-trabalho.shtml)
As investigações, é claro, estão apenas em fase inicial; contudo, gostaria de aproveitar a deixa para tratar de dois temas relacionados que têm despertado meu interesse nos últimos tempos: o bullying, o preconceito contra mulheres, e a conjugação destes dois elementos.
Há algum tempo havia lido uma reportagem sobre um determinado local que possuía o recorde de homicídios de mulheres. Tentando encontrá-la, deparei-me com outro artigo de mesmo teor, falando sobre a violência contra mulheres na Guatemala. Segundo o texto, as mulheres guatemaltecas ainda sofrem com o machismo arraigado na cultura do país, que faz com que qualquer conduta feminina considerada "inadequada" seja motivo para a prática de algum crime, geralmente perpetrado com grande violência (abuso sexual ou mutilação do corpo da vítima) e precedido de ameaças.
Não bastante, ao fazer uma pesquisa de artigos em espanhol, encontrei um texto publicado no jornal espanhol El Mundo acerca do bullying contra meninas, afirmando que, dentre as crianças e adolescentes que são vítimas desta prática hoje infelizmente tão comum em escolas, as do sexo feminino são as que possuem maior propensão a sofrerem transtornos na idade adulta, ou ainda, a cometerem suicídio.
Sinto-me no dever de acrescentar meu depoimento pessoal ao debate: não sofri bullying na infância tampouco na adolescência, porém, soube muito bem como é a sensação de estar em desacordo com o padrão estabelecido pelas minorias dominantes, ou seja, pela "elite da escola". Inclusive falei um pouquinho sobre isso no texto "As marcas do período colegial". O que me fortaleceu e me impediu de desenvolver maiores angústias, tenho certeza, foram :os meus princípios e ideais de vida, os quais me foram passados e ensinados por minha família desde a mais tenra infância; as poucas porém qualitativas amizades que eu tinha (de meninas igualmente consideradas "as esquisitas da escola"); mas principalmente, a minha convicção de que não era eu a errada da história.
Eu não estava errada em ser eu, em gostar do que gostava, em fazer o que fazia. Nunca lidei com nada ilegal ou imoral, apenas preferia coisas diferentes. Em outras palavras, não era eu quem precisava me encaixar naquele padrão: é o próprio padrão que não devia existir! Esta certeza é que me dava força para seguir em frente e aguentar as perturbações: algum dia a verdade apareceria; algum dia todos saberiam que eu não somente estava certa em não querer me submeter, como também, poderia chegar muito longe com isso. Desde então, poucos anos se passaram, mas já vejo muitas daquelas pessoas "quebrando a cara", e aprendendo que a vida não é um simples joguinho de popularidade em que os vencedores só vencem por serem iguais. Muito pelo contrário... Hoje, a sociedade, o mercado de trabalho e todos os demais cenários da vida adulta exigem diferença, personalidade, singularidade, unicidade. Entre tantas lições que eu ainda preciso aprender, esta é uma a menos.
Há um sem-número de razões pelas quais o bullying ganha constância; um deles é o fato de a criança/adolescente vítima de bullying acreditar que merece aquele tratamento, ou de não ter autoestima suficiente para perceber que aquilo não está certo.
Já para o início da bullying, creio que os motivos não sejam tantos, nem tão difíceis de compreender... Afinal, jovens confiantes e seguros de si não precisam inferiorizar ninguém. E isto se estende aos adultos, e à condição humana em geral,por que não? Se é necessário ressaltar a fraqueza alheia para enxergar melhor a própria força, é porque talvez tal força não exista.
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