domingo, 3 de abril de 2011

Ser aquele que mais sente



"What have I done?
You seem to move on easy...
And everytime I try to fly, I fall
Without my wings, I feel so small..."
('Everytime', Britney Spears)

"O que eu fiz?
Você parece seguir em frente facilmente...
E toda vez que eu tento voar, eu caio
Sem minhas asas me sinto tão pequena..."


Dói mais ver que não dói tanto no outro quanto em você. O ser humano inseguro sente-se a mais anormal das criaturas quando sente dificuldade naquilo que aos outros parece tão fácil.


“If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me”


(“Se a afeição não puder ser igual,
Deixe-me ser aquele que ama mais”)


Como nesse belíssimo trecho do ainda mais belo poema de W. H. Auden, "The more loving one", nem sempre o sentimento fica equilibrado. Há vezes em que uma das partes ama mais, e há vezes em que o rompimento de um laço é mais doloroso para uma das partes. Dói ser a parte que sofre mais. Dói além da própria dor do fim, porque machuca pensar que a outra pessoa sofre menos porque sentirá menos falta de tudo que acabou.

Parece ridículo e até pleonasmo, mas o fato é: sofrer dói. É doloroso sentir dor. Ademais do próprio motivo que gera o sofrimento, machuca saber que somos tão fracos a ponto de gastar nossas energias sofrendo, em vez de superar, seguir em frente ou simplesmente não deixar-se abalar.




Chora. Uma grande dor te punja e corte
E de prantos te inunde a face austera,
Já que uma dor pequena prantos gera
Na alma de um fraco, só, por que a suporte.

Certo, não torce um coração que é forte,
A dor que um frágil coração torcera;
Peitos de bronze, não; peitos de cera
É que a dor amolece desta sorte.

Prantos, bálsamo e alívio de quem chora,
Sejam frutos do amor, ou sejam frutos
Do ódio, bem haja a dor que os faz chorar!

Bem haja a dor que pôde, enfim, agora,
Na aridez desses olhos sempre enxutos,
Duas fontes de lágrimas rasgar.

("Bálsamos prantos", de Raimundo Correia)


Tendemos a encarar cada momento de sofrimento como um momento que deve ser “desfrutado” ao máximo para depois passar. Choramos tudo que podemos, e damos o problema por encerrado. Faltam forças e sabedoria para perceber que é momento de reavaliar as coisas, pensar nos porquês dos fatos, e não apenas lamentá-los.

Que importa se estamos sofrendo mais que os outros? Sentir-se o pior dos seres não nos coloca em uma posição melhor, de mais coitadinho, de mais merecedor da misericórdia e compreensão alheia. Quanto maior o fardo, maior o compromisso. E quanto maior o compromisso, maior deve ser a luta e o empenho para cumpri-lo.     




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