sexta-feira, 29 de abril de 2011

Kate & William e as histórias amargas de falsas aparências em casamentos monárquicos

As aparências são superestimadas em nossa sociedade, é cediço. Quando há interesses de Estado envolvidos, então, não se prioriza somente as aparências, mas também os protocolos. 

Aproveitando o ensejo do acontecimento que dominou os noticiários do mundo inteiro hoje de manhã, a cerimônia de casamento do filho do príncipe de Gales, o príncipe William, e sua namorada de longa data, a "plebeia" Kate Middleton, gostaria de fazer um pequeno comentário a respeito de como muitas tragédias familiares são perpetuadas em nome das aparências.

Um caso não tão remoto, ademais de muito conhecido e também relacionado ao assunto do momento, é o do próprio Charles, príncipe de Gales, que casou-se em 1981 com a aristocrata Diana Spencer, tudo muito de acordo com as conveniências e exigências da Família Real britânica. Entretanto, desde a década de 1970, Charles era apaixonado por Camilla Parker Bowles e mantinha um relacionamento às escondidas com ela. 
Ambos desejavam casar-se, contudo, Camilla não preenchia os requisitos dos quais a Família Real fazia questão: não era anglicana, e era casada com outro homem, portanto, não era virgem; poderia até mesmo abrir mão de seu casamento com Andrew Parker Bowles (que aliás, era amigo de Charles, e contam ainda que era também cúmplice das traições!) para unir-se a Charles, mas uma divorciada tampouco seria bem vista.

Outro caso, desta vez concernente à história de nosso próprio país, é o de Dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil. Ele se casou em 1816 com a arquiduquesa da Áustria, que passou a usar o nome de Maria Leopoldina, e posteriormente, quando o casal chegou ao Brasil e Pedro assumiu a regência do país, tornou-se a Imperatriz Leopoldina. O casamento deu-se por pura conveniência, e com tão pouca emoção que foi até mesmo realizado por procuração! 
A verdade era que Dom Pedro, alguns anos depois, conheceu aquela por quem realmente se apaixonou, a Marquesa de Santos, Domitila de Castro. Os dois mantiveram um relacionamento por muitas décadas, e ao que parece, não faziam muita questão de esconder. Leopoldina, como mulher submissa aos preceitos da época e boa esposa de uma autoridade, fingia não ver nada, e quando via, aguentava quieta.



O fato é que tanto a Princesa Diana quanto a Imperatriz Leopoldina eram amadas e idolatradas pelo público. 

Diana costumava envolver-se
em obras de caridade
Diana era belíssima, doce, carismática, cativante. Ganhou o coração de súditos ingleses e pessoas do mundo inteiro com suas atividades filantrópicas e com sua figura maternal, em especial, pela forma com que aparecia com os lindos filhos que teve com Charles: os príncipes Harry e William (que casou-se hoje). 
Foi a primeira celebridade a deixar-se fotografar tocando uma pessoa portadora do vírus da AIDS, na intenção de mostrar ao mundo que estes doentes não mereciam o isolamento.

Já Leopoldina não se destacava pela beleza (inclusive, era criticada por ser gordinha), mas era extremamente inteligente e culta, ademais de muito engajada nas causas políticas. Seu papel no processo de independência do Brasil foi grande: ela assumiu a regência quando Dom Pedro viajou a São Paulo, a apenas um mês da data em que a independência foi declarada, e participou de várias decisões, além de que, assinou ela própria o decreto de Independência. Por fim, há quem afirme que Leopoldina idealizou também a bandeira do Brasil. No mais, também era muito caridosa e costumava dar esmolas aos pedintes. 

Mas de que vale tudo isso para um homem? Era Camilla e Domitila, com seus atributos (quais? Nunca se descobriu) que faziam Charles e Dom Pedro suspirarem. Diana e Leopoldina eram apenas parte do plano, apenas peça chave na composição da imagem de príncipe perfeito. 
Mesmo sendo mal amadas por seus maridos, mesmo sofrendo muito no íntimo de suas almas sem poder manifestar qualquer desgosto, mesmo obrigadas a aturarem traições e ainda assim posarem de boa esposa, Diana e Leopoldina cumpriam bem seu papel e inclusive exorbitavam-no. Ninguém exigia que se saíssem tão bem. 

Em pleno século XIX, ninguém esperava que Leopoldina se envolvesse em questões políticas e pensasse no bem de seu país... Simplesmente esperavam que fosse uma boa princesa, submissa, e que tivesse muitos filhos - melhor ainda se fossem do sexo masculino. A Família Real também não apostava em Diana para angariar tanta popularidade. Entretanto, elas fizeram questão de executarem bem o seu papel, de deixarem algum tipo de contribuição.

Mas... De que vale tudo isso para um homem? Que são a sensatez, a generosidade, a inteligência, o caráter, quando se tem uma amante voluptuosa e capaz de proporcionar deliciosas noites de amor? Sim, infelizmente, há homens que valorizem mais isto.
A Imperatriz Leopoldina e os filhos
que teve com Dom Pedro

O historiador Laurentino Gomes, autor de best sellers que tratam da história do Brasil de forma muito agradável, descreve a Imperatriz Leopoldina, em seu livro "1822", como "mulher certa casada com o homem errado". Acrescenta ainda citação de Octávio Tarquínio de Sousa: "O que lhe sobraria em dotes morais faltaria em sex appeal". Destas declarações, é possível ter uma ideia de por que Dom Pedro não desenvolveu qualquer sentimento amoroso pela esposa. Ele não conseguia sentir qualquer atração ou desejo por ela. E sexo é importante em um relacionamento; isto é inquestionável. 

Mas não é exatamente disto que pretendo tratar. Acho possível que Diana e Leopoldina, por mais admiráveis que sejam, possam ter dado motivo para que seus maridos não se encantassem tanto por elas (vejam bem, eu estou falando de possibilidades, não de fatos certos!). Mas, mesmo com isto, será que não mereciam um pouco mais de respeito?

Dom Pedro não tomava muito cuidado para disfarçar sua natural inclinação para a poligamia, e sempre dava um jeito de atrair a amante para o convívio da Família Real, inclusive, em vários eventos nos quais a Imperatriz também se fazia presente. Chegou a presentear Domitila com uma grande casa, denominada "Mansão Amarela". 

O caso amoroso de Charles e Camilla Parker Bowles também foi exposto ao público no início dos anos 90, ficando Diana em uma situação embaraçosa, mas ainda assim, ela manteve a atitude servil e condescendente. 

Por mais insossa e feia que Leopoldina fosse, ou por menos picante e interessante que Diana pudesse ser, a minha opinião é que elas mereciam, no mínimo, o respeito e a discrição de seus maridos, não somente por tudo que elas fizeram, mas simplesmente pelo fato de serem esposas, de serem "mulheres oficiais".

O lado bom no casamento de Kate e William é o fato de não ter sido arranjado, de não ter sido negociado por conveniência; é o fato de o relacionamento dos dois ter sido espontâneo e ter corrido de forma muito natural, contando com a vontade de ambos. William não se preocupou em desposar uma moça com sangue nobre, tampouco uma moça mais jovem e necessariamente virgem. Escolheu casar-se com a garota que ama, com a garota que está com ele há 8 anos, tempo suficiente para que um casal se conheça razoavelmente e saiba avaliar se terá sucesso em um relacionamento ainda mais sério.

Creio que, em que pese o devido respeito e acatamento a certas obrigações que a Família Real impõe, ter ignorado um pouquinho as exigências usuais fez bem ao casal, que parecia muito feliz ao se casar, além de constituir praticamente um antídoto (a favor de Kate!) contra várias das agruras sofridas pela mãe de William. 
Nada garante que eles serão eternamente felizes ou que William se comportará de forma mais digna que seu pai; entretanto, o simples fato de estarem tão preocupados com a própria felicidade quanto com o cumprimento dos protocolos, já é o suficiente para que sua união não esteja, desde já, fadada ao fracasso.
Felicidades ao lindíssimo casal!

Um comentário:

Andresa Mendes disse...

Também sou estudante,mas sou mais nova que você(não estou chamando você de velha,ta???rsrsrs...)
É que tenho 16 anos...=)
Achei muito interessante o que você escreveu
Confesso que este texto me chamou muito a atenção!!!
É realmente uma realidade o fato de pessoas se casarem e não demorar muito já se apaixonarem por outras...
O mundo,realmente,não sei onde vai parar...=)
Parabéns pelo texto!
E boa sorte nos estudos!!!
Um forte abraço!!!=)