domingo, 24 de outubro de 2010

Girl groups e doo wop

As Ronettes com Phil Spector


Muito antes das Spice Girls, já haviam grupos de meninas tomando conta do cenário musical: eram os girl groups, conjuntos musicais geralmente liderados por uma cantora que fazia os vocais principais enquanto as outras harmonizavam e dançavam. 


E os rapazes também não ficavam para menos: haviam os grupos de doo wop, que seguiam o mesmo estilo vocal. O doo wop advém do rhythm and blues, surgiu nas comunidades negras  e pode ser considerado um dos gêneros dos quais derivou-se o rock'n'roll. 
O grupo The Coasters


As garotas das girl groups geralmente faziam a linha delicadinha, feminina e apaixonada - como exemplo temos as The Crystals, The Angels, The Paris Sisters, The Teddy Bears (o nome diz tudo!), The Chiffons, The Starlets, The Cookies, e por aí vai; e os rapazes dos grupos de doo wop também eram muito românticos: basta ouvir alguma canção dos The Five Satins, The Penguins, The Marcels (do clássico "Blue moon"), The Duprees, The Drifters e saberão do que estou falando.

Havia também os grupos mesclados de garotos e garotas - aliás, nem tão mesclados assim, geralmente um dos sexos predominava -, como os The Platters (do hiper clássico "Only you", e também de "The great pretender" e a lindinha "Smoke gets in your eyes", que teve várias regravações), Kathy Young and The Innocents (da baladinha "A thousand stars") e Ruby and the Romantics (de "Our day will come", soulzinho gostoso com uma bela letra; ganhou uma regravação de Jamie Cullum).

Faziam pop de primeira qualidade, alguns meio chiclete, e grande parte do meu fascínio pela música desta época se deve ao fato de que, posso assim dizer, a gênese do pop, do rock e do soul (até porque a grande maioria dos integrantes destes grupos eram negros) passou por ali. 

O rock'n'roll surgiu com elementos do doo wop. Amostra disso? A triste e linda "Maybe", das Chantels - um caso de girl group que cantava exclusivamente doo wop, e não cantava pop. No DVD do Red Hot Chili Peppers há uma faixa em que o guitarrista John Frusciante toca e canta esta música. Outro exemplo: o clássico maravilhoso "Please Mr. Postman", das Marvelettes, que inclusive foi regravado pelos Beatles.

Meus girl groups prediletos são as Supremes, as Ronettes e as Marvelettes.


As Supremes são mais conhecidas por causa da Diana Ross, que era a líder do grupo e depois partiu para uma bem sucedida carreira solo. As canções eram uma delícia, meigas e melódicas, sem contar a doçura da voz de Diana. 

Clássicos como "You keep me hanging on" (que já apareceu na série Glee), "Where did our love go?" (já regravada pelas Pussycat Dolls), "Stop in the name of love" (a da performance desta foto), "Love is like an itching in my heart" (minha favorita delas!) têm força até hoje no cancionário pop americano, por trazerem aquela sonoridade gostosa da black music (afinal, as Supremes eram da legendária gravadora Motown, expoente da soul music nos anos 60), mas com a meiguice e feminilidade típica de um grupo de garotas.





As Ronettes eram lindas e super estilosas; suas músicas e penteados inspiraram Amy Winehouse (abaixo falarei mais sobre a influência das girl groups na música dela). 

Produzidas pelo grande Phil Spector, as Ronettes emplacaram vários hits, como "Be my baby", tema de abertura do filme Dirty Dancing. A vocalista Ronnie Spector (sim, ela casou-se com Ronnie) tinha uma voz linda!





Por fim, a música das Marvelettes também tinha uma sonoridade meio black (também eram da Motown) e um pouco contaminada por elementos do rock'n'roll; cito, como exemplo disto, a alegre canção "Beechwood 45789", que é propriamente um twist. Há também as baladas românticas "So long baby" (não sei qual garota faz a voz principal, mas logo no início ela alcança notas altíssimas, acho incrível, que voz!) e "Forever", que são doo wops, e como eu disse, o doo wop é um ritmos-mãe do rock. Além de, é claro, a já mencionada "Please Mr. Postman", 1º lugar nas paradas de 1961.





Enfim, todos estes conjuntos continuam até hoje exercendo grande influência na obra de vários artistas. Nas canções do álbum "Back to black", de Amy Winehouse, esta influência é facilmente perceptível, principalmente na faixa título; nota-se nela elementos de "Baby love", das Supremes, e "Be my baby", das Ronettes. Em "Rehab" e "You know I'm no good" também dá pra sentir. Ademais, na versão Deluxe deste álbum, Amy regrava "To know him is to love him", sucesso das Teddy Bears (dizem por aí que Phil Spector escreveu esta canção para seu pai). 

A baiana Pitty, antes de lançar seu mais recente álbum, também disse que a sonoridade seria influenciada pela black music americana dos anos 60, e eu até pude notá-los na faixa "Me adora".

 [Por sinal, até o nome da faixa me pareceu meio americanizado, nos EUA é que têm mania de pegar um pedaço isolado de uma frase e fazer dele o título da música, dando a entender que as palavras do título querem dizer outra coisa, diferente do que realmente querem. Por exemplo: se você não ouvir o refrão de "Me adora", pode pensar que o nome da música é uma frase imperativa, quando na verdade não é. Exemplo disto que citei como hábito norte-americano: "Baby one more time", da Britney Spears. A frase original é "Hit me baby one more time". Como o vocativo está no meio da frase, pegaram ele e o resto para compor o título de canção. Ficou estranho, pelo menos para nós que falamos português. Talvez em inglês soe mais normal. Ah, mas tudo isto são só observações bobas]

De uma maneira generalizada e até superficial, acho que os grupos de garotas e os de doo wop representam muito bem o espírito daquela época e de como a cultura pop começou a ser construída e difundida.

4 comentários:

Stef disse...

Olá Ana! Acabo de conhecer seu blog, estava buscando por semelhanças entre Amy Winehouse e Ronnie Spector no Google, e me deparo com esse excelente post!
Tenho 23 anos, sou apaixonada por essas bandinhas dos anos 60 desde que me conheço por gente! Conheci o fantástico mundo das músicas antigas através do meu pai e meus tios, as músicas são antigas até para eles, mas compartilhei a paixão!
Adorei seu blog, voltarei sempre! :)

Anônimo disse...

You cannot judge a tree by its bark.

Julio Alcântara disse...

Parabéns Ana!Adorei a forma como expôs os detalhes e as características desses maravilhosa grupos.Realmente fantástico como nunca adormece a memória da boa musica e sempre haverá gente para recordar e/ou se interessar por esses ritmos. Parabéns. Beijos,Julio.

Anônimo disse...

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