segunda-feira, 11 de julho de 2011

Psicologia, amor e sexo nas séries de TV: "Macho Man" e "Two and a half men"

A primeira temporada de "Macho Man" terminou na semana passada, e eu lamento. Na minha opinião, este seriado foi uma das melhores novidades da programação da Rede Globo neste ano. 

Além de ser engraçadíssimo e ter personagens super expressivos (alguns muito bizarros, e por isso mesmo, hilários), o que mais me agrada são as discussões sobre amor e sexualidade. Tudo é sempre tratado com muito humor, um humor que às vezes beira a excentricidade, mas o teor das temáticas é interessantíssimo. 

Os roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado (cada vez fico mais fã do trabalho deles, que conseguem mesclar diálogos inteligentes com comicidade; adorei os seriados "Separação" e "O sistema") falam de assuntos que realmente intrigam os homens e as mulheres, todos relacionados a amor e sexo (e há algo que nos intrigue mais?), mas fazem isso de forma engraçada, para não ficar pesado ou constrangedor demais. 

Devo destacar as atuações. Marisa Orth é sempre ótima, não varia muito em sua forma de atuar, mas sabe fazer como ninguém o papel de mulher perturbada. Apesar de bonita, ela não tem muita vergonha de parecer ridícula, e isso é fundamental para um papel que exige que a atriz não seja pudica. 


Jorge Fernando segue a mesma linha, não me parece ter várias nuances como ator, mas sabe ser engraçado como ninguém, e acho que isso é mais que suficiente para "Macho Man". 

As coadjuvantes são um destaque à parte. As atrizes Rita Elmor (que já havia feito um papel legal em "Separação legal") e Natália Klein (não a conhecia, mas a acho formidável) estão hilárias como uma bêbada e uma gótica que sempre soltam frases loucas. 

Mas o destaque maior, dou mesmo a Fernanda Young e Alexandre Machado, que estão mais afiados que nunca! Estava faltando, na TV brasileira, um programa que falasse de romances, sexo, homossexualidade, inseguranças e todos os demais temas que envolvem a relação homem e mulher (ou homem e homem, como o próprio "Macho Man" mostra), com tanta ousadia e cara de pau.

Nos EUA, que são bem mais conservadores que o Brasil, estas temáticas já são motes para programas de TV há algum tempo, e geram incrível sucesso. Assim foi com a excelente e  divertida "Sex and the city", que durou seis temporadas.

Young e Machado perceberam isso. Já abordavam amor e sexo em suas produções anteriores, mas acho que nunca foram tão longe quanto em "Macho Man". A começar pelo próprio enredo: a história gira em torno de um gay que passa a ser heterossexual! Desnecessário debater se isso é possível ou provável; legal mesmo é ver os embaraços e aventuras que ocorrem a partir disso.

Tal qual "Sex and the city" já mostrou, conflitos sexuais e românticos têm mais chance de serem bem abordados quando mostrados pelo ponto de vista das mulheres, que nutrem mais inseguranças neste aspecto do que os homens - ou talvez porque simplesmente reflitam mais sobre isso do que os homens, que preferem a parte prática. Em "Macho Man", a personagem feminina é Valéria (interpretada por Marisa Orth), uma cabeleireira que perdeu 20kg mas ainda não recuperou a autoestima que foi destruída ao longo de anos vivendo com o estigma de "gorda". 

Vez ou outra, lá está Valéria debatendo com suas colegas de salão ou com o seu melhor amigo, que é agora um "ex gay", sobre questões que a afligem, como mulher e como "ex gorda". É nestas horas que mais me divirto. Simplesmente adoro a forma como Young e Machado constroem as situações: Valéria está sempre desabafando e filosofando, criando teorias malucas (mas totalmente providas de sentido, eis a parte mais louca e incrível!) sobre as dificuldades nos relacionamentos amorosos, e em contraponto, seus colegas estão sempre tentando incrementar a discussão com relatos pessoais bizarros, ou simplesmente encarando o dito por Valéria por um lado mais engraçado ou improvável. 

Exemplo perfeito disto é o diálogo travado entre as personagens no décimo episódio, que foi ao ar em 10/06/2011:


Valéria: Acho sexo um saco.
Veneta: Exatamente como eu vejo, um saco.
Tifany: Eu gosto.
Valéria: Não. Você gosta de homem. Homem gosta de sexo, então o sexo vem no pacote.
Tifany: Qual a diferença?
Valéria: A diferença é que os homens transam e ficam satisfeitos, as mulheres transam e ficam inseguras.
Veneta: Exatamente, eu sempre tenho dúvidas se eu fingi direito.

E depois, Veneta ainda vem com esta: 
- Mulher não quer sexo, mulher quer homem, mas homem quer sexo, então a mulher engole.

Genial! Piadas de duplo sentido, confissões, inseguranças femininas, comparações entre homens e mulheres, está tudo aí. Só mesmo "Macho Man" fala de assuntos tão delicados e polêmicos com tanto atrevimento, de forma tão engraçada.

Outro aspecto que adoro no seriado é o fato como sempre decidem fazer algum jogo ou festa maluca entre os personagens. Ah, e vale frisar, todos os personagens têm algum lado obscuro ou excêntrico. Ninguém é absolutamente "normal" - e mesmo fora das telas, alguém é?

Tudo isto contribui para que assuntos sérios e verossímeis sejam abordados, mas com leveza. "Macho Man" convida-nos a refletir sobre sexo e romance, mas a rir disso também. Não traz respostas, e tampouco é essa a intenção. O propósito é divertir mesmo. Eu poderia dizer que o seriado trata de filosofia do amor e do sexo, com pitadas muito generosas de humor.

Outro seriado que aborda as mesmas temáticas, de forma tão engraçada quanto, é "Two and a half men" (que o SBT exibe às madrugadas com o nome de "Dois homens e meio"). É uma das atrações que mais tenho assistido nas últimas semanas, e tenho me divertido como nunca!

Interessante é que, em "Two and a half men", amor e sexo são mais discutidos sobre o ponto de vista masculino - e apesar de eu ter dito há pouco que o ponto de vista feminino rende mais, devo admitir que as abordagens são muito bem sucedidas e interessantes.


Na série, dois irmãos completamente diferentes se vêem dividindo o mesmo teto. Há ainda um garoto, Jake, filho de um dos irmãos, Alan - o mais conservador, é bom destacar -, que se vê às voltas com as diferenças do pai com o tio. Seu tio é Charlie, um solteirão boêmio que vê sexo e mulheres como passatempo, aliás, como seu passatempo predileto. Imaginem o tipo de influência que ele representa para o sobrinho! É isto que rende as situações mais hilárias.


Alan: Charlie, na minha idade todos meus amigos estão casados ou mortos.
Charlie: E qual a diferença? 




"Two and a half men" já vai para a sua nona temporada, e eu me alegro em saber que não assisti nem um décimo de todos os episódios. Cada um é mais legal que o outro.

Há duas coisas que chamam a minha atenção no seriado, e que me fazem com que eu dê aos criadores e roteiristas dele os meus parabéns: em primeiro lugar, a quantidade de piadas excelentes. Geralmente, em sitcoms americanas, encontramos duas ou três piadas boas em um episódio, e nem sempre são tão boas, mas o contexto geral te proporciona diversão. Já "Two and a half men" é sempre garantia de risadas. Os personagens são divertidíssimos, e as situações estão sempre ensejando tiradas rápidas e inteligentes.

A segunda coisa que quero destacar é a que, particularmente, mais me encanta: é a psicologia sempre implicitamente inserida nas piadas e na própria essência dos personagens. Charlie, apesar da pose de "garanhão", é obviamente um homem inseguro e emocionalmente imaturo. Tal qual seu irmão, sofre as consequências da criação (ou da falta de criação!) egoísta dada por sua mãe, Evelyn, e por isto mesmo, não sabe muito bem como lidar com as mulheres. Mas acha que sabe, ou até saiba, mas só o suficiente para conseguir a única coisa que espera delas: sexo. Quando a relação começa a envolver sentimentos e expectativas, Charlie se esquiva. 

Certa vez assisti a um episódio interessantíssimo (o o décimo quinto da sexta temporada, mais especificamente) em que Charlie e sua namorada Chelsea vão a uma terapeuta de casais. Outro episódio muito bom é um em que alguma mulher (não me lembro qual a personagem) tentava explicar a Charlie essa relação entre seu relacionamento mal sucedido com sua mãe, e seu comportamento com as mulheres.  

Neste site, a psicóloga Fernanda Davidoff fez uma análise psicológica muito interessante desta relação. Permitam que eu colacione apenas um fragmento dela: 

"Ela (a mãe de Alan e Charlie) vampirizou a possibilidade de ele (Alan) confiar no mundo e nas pessoas, pois além do dinheiro, suas doses de “carinho” trazem a frieza e a falta de contato. Evelyn, uma mulher narcisista, é incapaz de olhar para as verdadeiras necessidades dos filhos e muito menos fornecer-lhes o que precisam. Agora adultos, eles já formaram defesas para sobreviver, mas só as criaram porque foram submetidos a uma mãe invasiva, controladora, que não deixou que eles se desenvolvessem sem cicatrizes emocionais."

A discussão pode ir muito mais longe. A cada episódio temos novas pistas para desvendar essa intrigante relação, e a forma como ele afetou o desenvolvimento psicológico de Alan e Charlie, e ainda, como tudo isto tem afetado o menino Jake.

Enfim, ademais de todo o humor, essa parte psicológica por trás dos conflitos dos personagens de "Two and a half men" dá à série um charme especial, e a torna ainda mais interessante. 

Acho muito bom ver estes assuntos aparecendo nas séries de TV. Podemos simplesmente rir delas, ou realmente pensar sobre as reflexões que elas propõem. Mas o melhor é mesmo poder fazer os dois ao mesmo tempo.

Um comentário:

Ale disse...

Também Psi 2 é uma série que fala sobre a psicologia humana e Comportamento, realmente muito bom