sábado, 15 de janeiro de 2011

I'm not a bitch, so hate me.

Sabem daquela antiga geração que quis fazer uma revolução, que lutou pela liberdade de fazerem e dizerem o que quiserem, e também de transarem como e com quem quiserem? Aqueles jovens de alguns anos atrás, que conquistaram o direito de expressarem-se da maneira que preferissem, seja fazendo música punk ou colocando piercings? Aquela geração que queria ser livre, que não queria ser censurada, que queria escolher o caminho de sua própria vida? Pois é, com todo o respeito pelas conquistas desse pessoal, mas acho que levaram tudo muito ao pé da letra – ou talvez sejam as novas gerações que estejam distorcendo as coisas.

Eis que estamos abrindo uma nova década e a situação é a seguinte: está havendo uma ditadura da irreverência. Só é normal quem gosta de viver a vida nos extremos, quem tem “cabeça aberta” e experimenta de tudo.

Falo isso porque moro em uma cidade onde as pessoas respiram cerveja, onde ninguém consegue sorrir se não estiver com um copo de álcool na mão, e sentir vontade de ficar em casa num sábado à noite é doença.  Falo isso porque sou de uma geração em que quem não separa sexo de amor é visto como antiquado, quem não “fica louco” nas festas é sem graça e quem não é maníaco por festas é mais sem graça ainda. Falo isso porque vivo em uma época em que as pessoas se desvirtuam para sentirem-se aceitas.

Nada contra quem gosta, mas todos somos obrigados a gostar?

 Não estou aqui para crucificar A ou B. Cada um tem o direito de fazer o que quiser da sua vida, do seu corpo, enfim, de tudo que dispõe. Entretanto, o que me impressiona é que tudo aquilo que condenavam outrora, hoje veneram. Tudo aquilo que se esperava de um jovem em décadas passadas, hoje é discriminado. Como deixamos isso acontecer?

Vejo reflexos disso também na indústria do entretenimento, principalmente em relação às mulheres e em especial as cantoras. Quem não faz o estilo bitch (aos poucos este termo tem deixado de ser ofensivo) parece estar fadada a não se dar bem (Taylor Swift é a grande e indecifrável exceção), e em razão disso, até mesmo cantoras que nem são tão loucas assim estão optando por seguir esta linha, porque sabem que isso vende.

Demi Lovato é a mais recente estrela da Disney a se envolver em polêmicas que incluem fotos picantes e clínicas de reabilitação. Caíram na Internet fotos dela em atitudes assanhadas com seus amigos, e correm boatos de que alguém possui um vídeo dela fazendo sexo. Em notícia do site X 17 (fonte: http://x17online.com), uma fonte afirma que Demi havia se comportado de tal forma para impressionar os amigos. "Ela tentou agir de forma mais adulta usando linguagem chula e querendo mostrar a seus amigos como ela era rebelde, mas ela estava tão rude e apenas zombaram dela", diz o informante.

É aí que entra esta questão: a rebeldia e o crazy way to live viraram uma moda tão grande que as pessoas (os jovens, principalmente) estão sentindo-se pressionadas a adequarem-se a estes padrões. Continuemos com as famosas: há alguma cantora de sucesso na atualidade (além, é claro, da já citada Taylor) que nunca fez um videoclipe onde aparece quase nua, ou beijando outra mulher, ou qualquer outra coisa do tipo?

Repito: não estou aqui para crucificar ninguém. Tampouco me refiro às pessoas e artistas que são como são porque simplesmente são; minha crítica vai para aquelas que têm mudado seu jeito de ser para sentirem-se aceitas. Ou o videoclipe "Not myself tonight", da Christina Aguilera, não é um grito de desespero?, um clamor para ser ainda lembrada em um mundo dominado por Lady GaGa?

Christina já deixou de ser boa moça há muito tempo; assumiu-se em 2002 com o álbum "Stripped" e com o fatídico videoclipe "Dirrty", no qual ela aparece de biquíni e minissaia, sendo apalpada por vários rapazes. Pois bem, em 2002 aquilo era chocante, hoje não é mais. Christina agora precisa de mais que isso para ser notícia e virar hit. E por isso, dá-lhe chicotinhos, corseletes, sexo e lesbianismo em "Not myself tonight". Eu me pergunto se Christina, aquela se dizia inspirada por Etta James e Billie Holiday e que era apontada como "a diva da nossa geração", aos 30 anos (e quase 11 de carreira) e mãe de um filho, realmente é aquela garota do clipe ou só age assim porque precisa.

Já cheguei a ser chamada de “atrasada” por não gostar/fazer algumas coisas que hoje são consideradas naturais, porém não me agradam ou não vão ao encontro dos meus princípios. “Atrasada”, que tal? Como se houvesse uma série de estágios a serem percorridos na vida, e ficar de porre ou fazer sexo com desconhecidos são alguns deles. Até onde sei, isso fica a critério de cada um; estou errada? Eu faço da minha vida o que acho melhor, e se deixo de fazer o que todo munda acha o máximo, isso não quer dizer que “eu ainda não cheguei lá”, porque nada disso é obrigatório; quem faz, faz porque quer. Mas alguém, em algum momento, inventou que esse é o novo código, e quem não se adapta a ele fica se sentindo excluído. Meu Deus, este é o mundo em que eu vivo.

Um comentário:

ellen Ribeiro de Lima disse...

IRREVERÊNCIA IMPOSTA!!!!
foi a melhor colocação que li nestes últimos dias....sinceramente!Se realmente é verdadeiro seu conteúdo deixo aqui minha admiração e alívio por encontrar alguém neste mundo de Deus que sem mencionar nenhum dogma religioso expressa tooooda sua iddignação com um modismo que vem rolando montanha abaixo e detonando qq pensamento, um viver mais equilibrado e mais contido, o que nos ddiferencia dos irracionais posso assim dizer, pois me faltam palavras ou conclusóes como a que foi postado pela colega que vejo deve estar passano por dificuldades com a filha como eu! obrigada...